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Saudade

08:50 Vinicius Ferrari 0 Comments Category :

O tio do Vinicius morreu esta semana. Fase terminal de câncer. Morreu com aparência de velho, com a alma cansada, com os olhos de dor. Foi velado e sepultado em um dos mais tradicionais cemitérios de Porto Alegre, no mesmo lugar onde ícones da história gaúcha gozam do descanso eterno. Vocês conhecem Teixeirinha? Famoso nacional e internacionalmente por seu talento formidável com a gaita ou sanfona aí do norte, sepultado no mesmo corredor onde se enxerga de longe a estátua e o mausoléu erguidos à Julio de Castilhos ex-governador do Rio Grande do Sul que por ironia morreu da mesma causa de morte do tio do vosso amigo: câncer. No monumento erguido ao herói gaúcho lê-se a seguinte frase "Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos". O tio do Vinicius foi sepultado em uma gaveta em algum dos extensos corredores do Cemitério da Santa Casa. Sem pompa. Sem brilho. Não teve o prestígio de grandes autoridades muito menos de grandes monumentos. Um ex patrão, algumas ex-namoradas e toda a família foram aqueles que assistiram a cerimônia do adeus. O tempo fechado e sem chuva alguma tornavam o ritual um pouco mais dramático. Meu avô perdeu seu filho. Meu primo perdeu seu pai. E todos de uma forma ou de outra acharam naquele defunto deitado sobre um caixão algum motivo para estar ali. 18 horas. O padre vem, faz uma breve oração seguida da extrema unção e da encomenda do corpo. O cortejo segue em silêncio pelos corredores daquele monumental prédio construído na decada de 50. Não, não estamos falando em 1950 e sim em 1850. E tudo, absolutamente tudo acaba ali. Na gaveta número 2896. Quando a última pá de cimento cola é colocada sobre a lajota de concreto uma salva de palmas encerra o rito milenar da morte. Do pó viemos ao pó voltaremos. Quando alguém grita lá do fundo "é o fim" outrem fala baixinho, quase sussurando para si mesmo. "É apenas o começo".

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