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Palavra*

15:42 Vinicius Ferrari 1 Comments Category :


Mas ele vive fazendo as coisas erradas. Ele come errado. Fala errado. Sente errado. Dorme errado. Ama errado. Gosta errado. Veste-se errado. Comunica-se errado. Na verdade ele é errado. Ou na verdade, o meu texto é que ta errado. E ela é que ta errada assim. Se bem que talvez seja isso que faça com que ela o ame mais do que conseguiria imaginar. Eles dizem que sentem saudade no momento em que entram no ônibus pra ir pra casa. E olha, não são nem uma hora de viagem. Eles gostam de nescau. Um quente, outro frio. E assim sucede no sentimento. Carinho, abraço, beijo, palavras, mordidas, e aquele mimimi são da parte dele. Realidade, briga, choro, um pouco de carinho (mas escondido, ela não gosta de mostrar pra ele que também tem coração e sabe amar) e uma meia dúzia de beijos ela deixa que venha no pacote dela. Eles são bem diferentes.
Ás vezes parece que tem paredes especialmente construídas na volta dos dois. Ás vezes o que tem na volta deles é coração. Sim, coração, aqueles vermelhinhos igual nos desenhos do pica-pau ou de qualquer outra modalidade de desenhos infantis que eles assistiam após pegar o cobertor e correr pra sala quando pequenos, só esperando a mãe trazer o café da manhã. Eles se parecem muito. A história deles se parece muito. Parece na verdade, que eles foram feitos na mesma forma. O problema foi geneticamente encontrado ao longo dos dias (Ta, ok, eu não vou aplicar a genética aqui). Acho que na hora de desinformar alguém deve ter metido a faca no meio da massa quando na verdade era só preencher as bordinhas na forma. Que gente tonta! E o maior problema eu ainda vou dizer: eles acham que ser diferente é normal. (mas não o ‘’Ser diferente é normal’’ da propaganda da Globo pra conscientizar o pessoal). Onde já se viu?! Ela acha que tudo deveria ser igualzinho. A quantidade de carinho, de abraço, de beijo, de briga, de mensagens, de sorriso, de amor, de paixão, de sexo (ou amor, como ela gosta de falar) e até de tuítes. Ela gosta dos lençóis arrumados, dos travesseiros no lugar certo, das portas do roupeiro e do armário da cozinha fechadas. Mas ele não gosta do certinho. Tem que ter bagunça. O quarto dele é uma bagunça. A vida dele é uma bagunça. Desde as portas abertas do roupeiro até a mesa do computador cheia de tralhas. Ele vem da sala espalhando tênis, meia, casaco, mochila e um monte de cacarecos que traz da rua. O quarto deles é cheio de foto. É tudo cheio de amor. A cama deles é o lugar mais aconchegante do mundo. Eles gostam de fugir pra lá às vezes pra ‘’desencanar’’ de alguma coisa que vem matutando na cabeça. Lá eles gostam de fugir dos problemas da faculdade, do serviço e até dos pais. Para os dois, a cama é o lugar onde tudo se esclarece (acho que é só nisso que eles concordam). Pra ela, dormir de meias é essencial, mesmo no calor. Pra ele, as amizades e a liberdade é o que o sustenta. Vocês acreditam que ele a critica por deitar e acordar do mesmo jeito?! Enquanto ele deita e rola. Literalmente. Ela me disse uma vez que ele a acorda no meio da noite pra conversar. Conversar sobre a vida, o dia e o relacionamento. E se tem uma coisa que ela odeia é conversar. Ela senta e passa horas escrevendo, mas não fala. Guarda pra si. Tem noites em que ele a sufoca. A metidinha diz que tem pânico de lugares fechados e ele, por sua vez, a-do-ra meter o mãozão no rosto dela pra trancar a respiração. E fica rindo. Achando bonito. Achando engraçadíssimo. É um bobo mesmo! Ultimamente ele vem ensinando a ela boas maneiras pra fugir desse pânico. Tipo, uma terapia. Falando em pia, ela prefere lavar a louça a deixá-lo com essa função. Ele demora horas em três pratos, três garfos e duas facas. Ás vezes tem copo e aí ele enche o mesmo de água e diz: ‘’é assim que se lava um copo, aprende comigo!’’, tudo isso sem passar a esponja no pobre coitado. E o chão da cozinha? Dá pra passar pano na casa com a água que ele derrama nessa viajem toda. Tirando a roupa, que ele toma banho e esfrega na pia. Isso a deixa indignada! Mas, voltando ao aconchego da cama, ele criou a maneira super-homem de dormir e não suporta outro jeito. Mas ela, como toda menininha apaixonada adora dormir aconchegada e de conchinha. Ele não sabe que aquela respiração na nuca dela a deixa maluca. Sem sentir os pés no chão. Ele diz que ela faz as patinhas de dinossauro quando cruza ou balança as mãos (segundo ele, de felicidade). Mas ele é meio louco, não liguem. Ele às vezes fica viajando olhando pro nada pensando em tudo. E o objetivo dela é adivinhar os pensamentos dele. Não digo que às vezes ela consiga, mas que ela tenta, ah, isso ela tenta. E chora quando vê que ta errada. E briga quando vê que ele ta batendo o pé porque ta certo. Afinal, a mania de bater o pé quando ta braba é dela. Ele some nessas horas. Ele fica mudo. Ou então ele começa a incomodá-la. Mordendo, colocando o cabelo progressivo pra frente do rosto, beliscando e olhando seriamente pra ela. Às vezes ele a pede em casamento, diz que quer morar junto com ela pra dormir e acordar ao lado dela. Eles sabem que isso só será possível daqui uns três anos. Ahh não, três anos é o tempo dele. Pra ela deve ser bem mais de três. Talvez 3.333¹². O combinado é terminar a faculdade. Ele ta investindo na carreira de Jornalista (ou de fotógrafo, porque ela diz que só vê o coitado tirando foto) ele quer um dia sentar na bancada do JN ao lado da Patrícia. Ou de qualquer colega talentosa e linda que ele tem. E ela tem um sonho. Ser médica. E vai conseguir, a gente sabe que vai. Abrir cadáveres e investigar coisas pra uma família desesperada pela morte do ente querido é o objetivo dela. Enquanto isso não começa a acontecer ela vai sendo Enfermeira e vivenciando a luta todos os dias. Viram como os dois objetivos são bem diferentes? Um casal nada convencional que deu o primeiro beijo ao som de Minha vó ta maluca e que disse eu te amo pela primeira vez ao som de Raimundos – me lambe, não poderia ser diferente.
Bem, não vou me prolongar porque meu voo ta partindo daqui a dez minutos e eu preciso voltar pra casa pra observá-los mais alguns meses. Meu objetivo agora é dizer pra eles que as pedras que eles mesmos colocam no caminho servirão pra construir uma bela escada. E que bela! É só olhar as fotos e ver que a felicidade e os corações vermelhinhos que eu disse lá no começo estão por toda a volta! O amor predomina tudo. Cuide do seu amor. Cuidem-se todos os dias. Ou melhor, cultivem-se. E me aguardem, porque quando vocês menos esperarem eu estarei de volta.
Com carinho, F.



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*Texto da Bruna Martins para o papai aqui. Mais dela, aqui e aqui!

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1 comentários

  1. Que texto lindo. Consegui encontrar eu e o meu amor em algumas partes do texto hihi. Desejo sucesso para ambos nos projetos futuros!

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