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Litoral Gaúcho, novembro de 2011.

16:00 Vinicius Ferrari 1 Comments Category :

Querida;


Tudo o que sonhamos um dia esta guardado em uma caixinha em baixo da minha cama, cuja existência somente eu sei. Poderia jogar fora assim como tantas outras velharias que a gente guarda durante a vida. Afinal temos que limpar o guarda-roupas de vez em quando, certo? Mas a verdade é que não tenho coragem de colocar o lixo pra fora. Sempre fui medroso, você sabe disto. Além do mais, prefiro deixa-la ali, para caso um dia precise. É igual aquela mesa antiga que sua mãe guarda na garagem da casa de vocês, seu pai vive brigando com ela, mandando ela jogar aquilo fora pois ocupa uma vaga inteira. Você acha que ela é velha, ultrapassada e de péssimo gosto arquitetônico. Mas ela deixa lá. Diz que uma hora aqueles parentes do Rio de Janeiro podem vir fazer uma visita e onde colocarão todos comer? Nas mãos feito índio? Não. Precisam de uma mesa maior. Na verdade ela sabe que os parentes do RJ não irão vir tão cedo, e mesmo que viessem prefeririam ir para a casa da Tia Cotinha que muito maior que o apartamento de vocês. Acontece que aquela mesa carrega a história da família. Ali foi realizada a primeira refeição da vida de casados dos seus pais. Ali foram realizadas tantas festinhas infantis de vocês. Tantos almoços de família. Inclusive aquele em que fui apresentado para a família. Lembra? São histórias querida. E elas são assim mesmo. Ficam guardadas. Alguns guardam com todo o amor e carinho. Outros colocam na garagem. No nosso caso a escolhida foi a parte inferior da minha cama. Não sei quando terei coragem de colocar aquela caixinha fora, em um pedaço tão pequeno de papelão cabem tantas recordações. Talvez eu e sua mãe precisamos aprender a arte de se “desapegar” as lembranças. Aprender que aquela velha mesa sem serventia poderia servir como palco de inúmeras refeições de alguma família que precise de uma mesa nova. Aprender que o conteúdo da caixinha não faz sentido algum sem você por aqui. Aprender que viver significa: ter a sabedoria necessária para encerrar ciclos, saber qual é o momento de dizer adeus ao passado e às coisas que nos prendem. Nos sufocam. Eu queria que essa caixinha ficasse pra sempre em baixo da minha cama. Mas tenho medo que um dia ela seja confundida com o lixo e seja descartada. Assim como a nossa história foi. 
                                               Um beijo daquele que nem seu nome pode dizer.

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1 comentários

  1. também tenho coisas guardadas em uma caixinha, mas no caso, é dentro de mim e tenho medo de perder, mas ao mesmo tempo, quero deixar longe, não quero mexer...

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